Edebrande Cavalieri
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Educar sem rótulos?
É POSSÍVEL EDUCAR SEM RÓTULOS?
Hoje uma determinada pessoa muito culta me disse que seu objetivo é educar os filhos sem nenhum tipo de rótulo. E isso me deixou intrigado. Como é possível viver num mundo sem rótulos? Que mundo seria esse? E logo me veio o pensamento sobre a linguagem. Como escapar da linguagem? O rótulo é um tipo de linguagem e está presente na cultura de maneira intensa.

Entendemos que há um uso com significado altamente pejorativo quando o rótulo implica preconceitos e estereótipos, o que compromete seu real significado. Rotulamos os políticos como todos desonestos e também a Deus como juiz rigoroso e cruel, para não dizer autoritário. Rotulamos as pessoas obesas, as magras, as altas, as baixinhas, os negros, as mulheres, etc.

Rotulamos também os produtos para sua identificação no mercado e tantos são verdadeiras obras de arte como os rótulos dos vinhos. Olhamos para uma garrafa e tentamos decifrar seu sabor, sua qualidade. Também nossas escolas acabam sendo rotuladas em meio à cultura. O empresário quer que o nome seja uma atração em termos de marketing. E as escolas públicas, quase sempre, são rotuladas com o nome de algum educador de renome.

Até aqui pode-se perceber que, se por um lado o rótulo enfraquece de modo pejorativo o que uma pessoa é e representa, por outro lado, o seu uso em produtos e lugares acabam sendo vistos de maneira positiva, como expressão artística de um desenhista que buscou integrar os diversos perfis que podem ser explorados daquele produto.

Existe até uma ciência denominada semiologia que estuda os sistemas de signos como é o caso dos rótulos. O mundo em que nascemos e vivemos se constitui de signos, códigos gestuais, científicos, estéticos, religiosos e sociais.

De maneira bem concreta, podemos registrar que logo que nascemos recebemos um rótulo para a vida inteira, o nome. Com ele formamos nossa identidade, e em muitas pessoas o peso de um nome não aceito acaba tornando-se problema psicológico. Na escola também, além de continuarmos com o nome do registro civil, recebemos um número. Como sofre a criança cujo nome vai cair no número 24! Há times de futebol que até retiram as camisas dos jogadores com esse número.

Também somos rotulados na rua, nos campos de várzea, nos joguinhos de internet, no mundo. Nunca esqueço do primeiro apelido que recebi na minha infância, “cabeção”. Chegando em casa chorando, minha mãe, uma sábia, me perguntou por que eu chorava e contei para ela. Então disse: - Deixa de ser bobo, meu filho! Cabeça grande é sinal de inteligência. Quem te chama de cabeção é porque tem inveja de você. E o rótulo tornou-se leve e desapareceu.

Enfim, como é possível educar alguém escapando dessa realidade rotuladora da vida, da história, da civilização? Parece que para algumas pessoas há uma crença semelhante a do Barão de Münchhausen, que procurava se equilibrar entre a realidade e a fantasia sempre dentro de seu próprio mundo. Esse personagem vivia da crença na fuga do pântano no qual ele e seu cavalo estavam afundando, mas teria agarrado seus próprios cabelos que era na verdade uma peruca. Ele e o cavalo foram salvos do pântano mediante seu esforço de puxar a si mesmo pelos cabelos.

Mais do que fugir dos rótulos que circundam nossa vida, nossa história, talvez seja o melhor caminho ajudar as pessoas a encontrarem um caminho para saber o que fazer com o que fizeram com elas. Ninguém tem a exata dimensão onde algo, pode ser até uma brincadeira, vai doer no outro. Onde vai machucar. Não se sabe quase sempre. Nem pai e nem mãe sabem como a sua educação dada aos filhos segue um caminho de normalidade psíquica ou de adoecimento. É preciso não se iludir com fantasias.
Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 24/08/2021
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