Edebrande Cavalieri
A escrita é a salvação do espírito, da alma e do corpo.
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Anunciadores da primavera
Da calmaria de um tempo frio em que nos recolhemos em nossos aposentos sob a proteção de agasalhos e cobertores, com equipamentos para aquecer o ambiente, o mundo parece ressurgir sem muitos avisos e estardalhaços. O mínimo acréscimo de grau em temperaturas com raios solares num dia mais longo para iluminar e aquecer a casa que lhe pertence é motivo para alardear movimentos, reações, esboços vitais que logo se transformam em pura beleza. Não adiante nem marcar o dia para começar a nova estação. Ela pode chegar até um mês antes com tantos avisos e chamados. Chegar antes da hora marcada nesse caso é sempre motivo de alongar a alegria. Que festa está por acontecer? Que fenômeno faz o mundo mudar das folhas caídas, espalhadas pelo vento, para novas roupagens que vestem as árvores e as plantas?

Poetas sempre exaltaram sua chegada como o acontecimento mais alegre, sempre em tom maior. Não há espaço para nostalgia ou tristeza! Nem para andante monótono. As cores exaltam a alegria tão colorida! Os poetas! Ah! Os poetas! Seres especiais, assim como os místicos, capazes de ver beleza numa pedra no meio do caminho, capazes de antever o ressurgir do novo, do imprevisto, do inesperado. Poetas são seres de outro mundo. Os místicos também. Estamos carentes de poetas e de místicos no mundo atual. Os poucos que estão entre nós se desgastam com tantos brucutus!

Poesia sem merecimento é como jogar algo sagrado aos cães, ou atirar pérolas aos porcos. Eles pisarão sobre elas e os despedaçarão nos diz o texto bíblico. Os mesmos brutos que exaltam o poder das armas, do fogo que mata, da pólvora que explode, do ódio que aniquila, não merecem o sagrado ou a beleza de uma pérola. Não cabe parceria dos poetas com esses monstros que povoam nosso cotidiano. Eles são totalmente incapazes de vislumbrar o que está por vir. São seres das trevas, dos cemitérios, dos escombros das explosões das bombas. Se encontrassem o Francisco de Assis por aí seriam capazes de eliminá-lo senão com os fuzis, mas com certeza com as palavras e impropérios.
Mas ela está chegando, mostrando sua beleza em todos os cantos. Ela veste cada planta, cada árvore, cada ente que se dispõe ao mundo, mas apenas os poetas são capazes de tomar uma atitude oposta à queimada. Em vez da fumaça, a admiração. Em vez da quentura fervente que mata os animais, a doçura do néctar das flores.

E assim a vida se renova, se recria, se dinamiza! A primavera é essa fênix que recompõe a natureza para que tudo tente se recuperar. Se não bastasse o frio do inverno, temos também as queimadas e as secas. Como sofre a natureza! Como é forte! Até quando irá aguentar tantas queimadas. Chega de fumaça. Vamos enflorar tudo, as ruas, as terras, os campos, nossas casas. Se tudo for aumentado com flores, a vida será cada vez mais intensa.

Então basta ouvir o grito solitário dos ipês que ainda resistem a tantas queimadas no cerrado! É preciso replantar novas mudinhas, reflorestar, encher nossas avenidas. É preciso encher nossa vida de primavera! Vamos ouvir o grito de todas as flores de inverno que anunciam a primavera. Vamos abrir caminho para tantos pequenos animais que trabalham nessa época polinizando as flores para que germinem frutos gostosos. Atrás das flores chegarão os frutos. Cada um com seu sabor, sua cor, seu tamanho. E assim o ciclo vital vai fazendo perdurar a vida. Cuidemos da primavera para que não nos faltem os frutos!
Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 31/08/2021
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