Edebrande Cavalieri
A escrita é a salvação do espírito, da alma e do corpo.
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Madrugada em letras
O escuro da noite amedronta tantas pessoas e nos torna reféns das drogas ingeridas sem tanta necessidade. Apenas o medo do escuro ainda nos faz crianças em busca do amparo da mãe ou do pai. A angústia de ficar rolando na cama, buscando algo que não chega e se esvai, nos torna tensos e doentes mais ainda. A cama parece que mesmo se entregando por inteira não consegue arrefecer nossa ânsia pela busca. Mas que buscamos?

Nos momentos mais sombrios somos puramente buscas. Ou sempre seremos buscas? Temos esse grande desafio de vida. É preciso buscar. Mas, se não se quer buscar nada? Ou queremos agarrar alguma coisa que não é concreta, pura fantasia, puro desejo sem específico. Talvez sejamos puramente buscas. Jamais completude. Desafio da vida. Transformar a busca em algo concreto e nisso adoecemos. Somos doentes de tanto buscar e nunca nos satisfazemos com o que se dá, sem cobrar nada. Simplesmente se dispõe para nós.

O tempo da pandemia tornou mais aguda ainda a busca, a falta, e acabamos encontrando nas tarjas pretas. O que encontramos? Nova escuridão! Mas pelo menos nos refugiamos na inconsciência de um sono imposto por alguma droga. E dormimos. Mas como será o dia seguinte, ao acordar, com a cabeça sei lá aonde? Pelo menos rolamos pouco na cama. Morremos no sono. Credo! Mas é isso mesmo. Dizemos até “sono eterno”. Ah! Eternidade, por que não se mostra de outra forma? Por que se esvai também junto com o nosso querer desaparecer.

A pandemia nos isolou, nos tornou reféns de tantas coisas, nos adoeceu e muitos foram levados por ela para a eternidade do sono. Que tristeza! Não era a hora para ninguém que se foi. Todos que se foram concordariam que seu desejo era continuar as buscas nas noites mal dormidas, nas noites ameaçadoras, nas noites sem sono.

E como encontrar salvação nessa doença endêmica de buscar e nada achar, nada nos satisfaz? Só temos uma saída: recorrer aos céus. Quem virá nos salvar? Fomos educados para recorrer a um só Deus. Mas acho muito pouco. Se ele falhar, o que será de mim? Talvez esse Deus esteja tão sobrecarregado de pedidos que a fila de espera dobra quarteirões da eternidade. Talvez o melhor caminho seja aquele indicado pelos gregos. Ir ao panteão e ali falar com todos os que se dispuserem para ajudar os pobres humanos. Tem uns que não querem nada com os humanos. Temem serem roubados no paraíso. Ops. Olimpo!

Então encontro à minha frente nove musas jovens e belas, filhas de Zeus e Mnemósine. Ah! Essa mãe não pode ser desprezada. Somos levados sempre a ver a função masculina. Assim todos sabem quem era Zeus. Mas e a mãe dessas nove musas? Não gerou guerreiros como era o orgulho das mulheres espartanas, mas musas, simplesmente. Nada mal. E nove?  Já estou em contato com essa mãe deusa de tantas musas, pois se tem algo que não posso perder é a memória. Que Mnemósine me proteja, nos proteja. Venha sempre em meu amparo!

Contudo, vim ao Panteão em busca de socorro para a minha aflição. E vi que tenho a meu dispor nove lindas musas. São tantos atributos que elas possuem que estou pensando em estabelecer moradia com elas. Assim não vamos mais rolar na cama em busca. Não estou buscando nove mulheres para uma orgia, mas companheiras das noites em claro no escuro.

Tenho até o nome delas. Mas, cuidado! Cada uma tem uma responsabilidade. Acho bom não confundir as buscas. Se nem sabes o que buscas, fica difícil estabelecer algum pacto com uma delas. De minha parte já decidi que ficarei com Clio, minha musa para a inspiração nas letras e nas histórias. Mas podem encontrar outras como a Talia, a Erato, a Euterpe, a Calíope, a Terpsícore, a Urânia, a Melpômene e a Polímpia. Tomem mais cuidados com elas, pois são figuras super vaidosas e arrogantes. Não aceitam muito papo de filósofo questionador.

Como busco o lado bom dessas musas, os seus defeitos não me preocupam. Foi assegurado que essas elas são deusas que inspiram os artistas, que inspiram os cientistas e os escritores. Já vi que que meus leitores estão anotando meu celular para pedir o endereço dessas lindas musas inspiradoras. Olhem para os céus! Ao verem uma nuvem dourada que cobre os picos das montanhas, vocês encontrarão a salvação para as noites de buscas. E assim a escrita nos salva da angústia de buscar sem encontrar. A escrita nos leva em contato com essas lindas mulheres e nos faz feliz. O encontro na escrita nos torna menos humanos e mais divinos, pois nos saciamos na fome de palavras.
Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 02/09/2021
Alterado em 02/09/2021
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