Terrorismo: fracasso civilizatório
Hoje, onze de setembro, o mundo relembra um dos eventos mais cruéis da história, assim como o foram as bombas atômicas sobre o Japão e as guerras mundiais no século XX. Nunca é demais lembrar os horrores dos campos de concentração com mais de seis milhões de judeus executados. Não bastassem os horrores do século XX, ao iniciar o novo milênio eis que do nada, parece, surgem dois aviões comandados por sequestradores que explodem nas torres gêmeas, orgulho e imponência do poder americano.
O terrorismo, diferente da guerra propriamente dita, tem seu primeiro registro histórico no início do século I quando um grupo de judeus radicais, os chamados sicários ou homens do punhal, atacavam judeus e não judeus que estavam a favor do domínio romano. No século XI também há registros dessa prática covarde de uma seita muçulmana que exterminava seus inimigos no oriente médio.
O século XX até agora é o tempo que mais presenciou ações terroristas, com expansão de grupos que escolhem esse caminho como forma de luta. Assim temos na Espanha os separatistas bascos, na Turquia e Iraque os curdos, na Caxemira temos grupos radicais do islamismo e organizações de ultradireita de cunho paramilitar racista que agem nos Estados Unidos. Isso apenas para citar aqueles que mais se conhece. Portanto, o ataque de onze de setembro não é único e jamais será o ponto final.
As guerras convencionais já são produtos da irracionalidade e do desejo de dominação, mais ainda são as ações terroristas que não permitem nenhum mecanismo de defesa para as pessoas. Simplesmente se deram mal por estarem naquela hora e naquele lugar quando explodem qualquer artifício, mesmo que aparentemente não represente nenhum risco. Quem iria imaginar que dois aviões comerciais seriam usados para explodir as torres gêmeas? Até uma pessoa sozinha pode se tornar uma arma terrorista, quando traz consigo bombas nos chamados ataques suicidas.
O que leva a humanidade a encontrar em seu processo civilizatório esse tipo de atitude? O que deu errado? Muita coisa. Os terroristas que explodiram aqueles prédios nos EUA não vieram de fora. Foram treinados ali mesmo. E o orgulho americano de inteligência que vasculha o mundo todo não conseguiu perceber que ali no próprio território havia grupos que planejavam ataques terroristas.
Na verdade, o processo civilizatório não é algo consensual. Tantos rejeitam e negam o desenvolvimento capitalista. Negam o desenvolvimento político através dos ideais da Revolução Francesa. Negam o progresso. Por que? Penso que esse processo é cada vez mais excludente, gerando reações contrárias. É um processo de dominação semelhante ao que o Império Romano realizava no primeiro século quando os judeus formaram grupos de luta fora das linhas tradicionais de exército e soldados.
A humanidade que permitiu as bombas atômicas, o regime nazista de Hitler, e outros horrores é falha, covarde, incapaz de levar à frente projetos de paz. Parece que o domínio da irracionalidade terrorista compõe um dos aspectos antropológicos da humanidade. Então seremos também cúmplices das atitudes terroristas, assim como fomos cúmplices das mortes de japoneses com as bombas atômicas e com os horrores do nazismo. Alimentamos ou não dentro de cada um de nós os futuros terroristas. A explosão de algum edifício é o desfecho final do processo que foi se formando em nossa sociedade, em cada um de nós. Até um caminhão pode se tornar uma arma para uso terrorista e não mais como veículo de transporte. Quando nos propomos ou deixamos crescer o processo de armamento na sociedade estamos abdicando de nossa responsabilidade histórica de formar uma sociedade para a paz.
Assim como os EUA naquele momento até poderiam impedir as explosões dos aviões nas torres gêmeas, mas como? Explodindo os aviões? As autoridades policiais sabiam que os aviões tinham sido sequestrados. Mas o que fazer? Na verdade, o combate ao terrorismo, expressão do fracasso civilizatório, deve ocorrer em outros campos. Os mecanismos bélicos mostram-se sempre ineficazes para combater ou impedir ataques terroristas.
Enfim, o terrorismo é expressão do que a humanidade não conseguiu resolver. É fracasso cruel. A humanidade toda é cúmplice. Foi deixando acontecer práticas, convocações, discursos, crimes, e não se propôs a desenvolver processos educativos para a paz. Em vez de muros, a humanidade precisa construir muitas pontes, principalmente para aqueles grupos que são diferentes, excluídos.