Edebrande Cavalieri
A escrita é a salvação do espírito, da alma e do corpo.
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A vida como obra de arte
Hoje deparei-me com uma pergunta muito instigante de Michel Foucault e me deixou a pensar sem parar. Ele observa que sempre nos referimos a objetos como obra de arte, e nunca colocamos a arte relacionada aos indivíduos e à vida. E pergunta: “Por que uma mesa ou uma casa são objetos de arte, mas não as nossas vidas?”
 
 
E logo veio até mim a ideia da vida como arte. Que coisa interessante! A vida então se torna bela. Pode ser contemplada. A vida se torna valiosa. Bela! Nossa vida não deveria ficar confinada, escondida. No mês de prevenção ao suicídio essa ideia da vida como arte fica ainda melhor de ser entendida. Não jogamos fora uma obra de arte, rara como somos, única como somos.
 
Em nossa sociedade a força e o poder dos objetos sobre nossas vidas nos impõem a morte da vida. Por isso somos levados a achar que nossa obra esteja desde sempre pronta, completa. Nada disso. Ela se faz. E não é obra individualista, mas coletiva. Estamos num processo coletivo de criação da arte de nossas próprias vidas. Somos então corresponsáveis por tudo o que acontece com o outro.
 
E fui pensando mais algumas questões. Se minha vida fosse uma pintura, como eu gostaria que se mostrasse para o mundo em minha volta? Muito colorida? Cores vivas? Apenas riscos? Seria um quadro semelhante àqueles dos grandes artistas? Agora ficou confuso demais. Talvez por que nunca me coloquei tais perguntas. Penso que o quadro da minha vida seria sim muito valioso e muito admirado. Talvez não por todos que passaram por ele. Mas pela imensa maioria das pessoas com quem convivi e dividi os espaços de exposição artística sob a forma de trabalho, lazer, convivência. Tantas exposições pela vida a fora! Incontáveis!
 
Só que não tenho apenas como alternativa a pintura como vida bela. Logo vejo que não existem apenas as sete artes clássicas – arquitetura, escultura, pintura, música, literatura, dança, cinema -, mas uma infinidade de campos que expressam o belo. Sendo assim há um conjunto bem grande onde cada um pode tornar-se arte e assim ser contemplado, admirado, curtido. Como seria a vida se assim fosse arte?
 
Então uso desse espaço destinado à arte como palavra para que possa manifestar meu desejo mais profundo e mais sincero, ser um artista da palavra. Sei que é uma busca constante. Nem sempre as palavras são encontradas dando sopa. Não há lugar onde possamos comprar palavras. Elas chegam até nós desde que nos coloquemos a seu serviço, a seu dispor. Quando sentem que serão aprisionadas, elas escapam e se tornam armas assassinas. Perdem a beleza e se tornam maldição.
 
Demoramos a nos abrir à palavra. De primeira tentativa explodiu um grito, um choro. Nascimento para a vida! E logo a palavra que nasce do olhar materno se faz aconchego, cuidado, paz. As mães são os primeiros guardiães das artes chamados filhos. E dessa abertura nasce um caminho repleto de palavras a serem estruturadas como arte. Seremos então a arte sob a forma de palavra. Que seja bela e dure para sempre! Que seja nosso modo privilegiado de revelar o cotidiano de modo a nos permitir compreender poeticamente não apenas o mundo, mas a nós mesmos.
Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 14/09/2021
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