Edebrande Cavalieri
A escrita é a salvação do espírito, da alma e do corpo.
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A fome e a indiferença
 
Fazendo uma caminha no meio da tarde, e parando numa esquina de uma rua onde alguém adquiriu o direito de vender água de coco para os transeuntes, usando um espaço de estacionamento da mesma rua e produzindo sacos e mais sacos de cocos vazios, eis que se aproxima uma pessoa em situação de rua. Vendo um carrinho de mão cheio de cocos sem água, aquele ser todo sujo pede ao dono do carrinho de água de coco se poderia pegar um para comer.
 
De maneira muito rápida, o vendedor autoriza pegar um coco e aquela pessoa imediatamente tira do carrinho um exemplar que poderia ser o seu almoço daquele dia. Retira-se imediatamente e começa a socar o coco na calçada, no muro, para ver se conseguia quebrar o coco para poder comer. E assim ele se foi até desaparecer de vista tentando quebrar o bendito coco.
 
Minha consciência chegou atrasado e comecei a me sentir muito mal. Olhei ao lado e uma senhora havia testemunhado a mesma cena. E comentamos: que triste! Esse comentário só piorou o meu estado de alma. Internamente eu me perguntava por que não pedi para aquele vendedor de água de coco para cortar o coco com uma facãozada certeira! Meu Deus! Chegamos sempre tarde diante da fome dos outros. Era simples. Aquela pessoa teria de imediato um coco não, mas tantos que quisesse, para enfim enganar o estômago.
 
Tentei me ludibriar pensando que se isso acontecesse, aquele tipo de gente tornaria aquele ambiente da rua muito disputado. Piorou meu sentimento de alma. Não queremos que os famintos se aglomerem, se juntem, para que possamos disfarçar nossa indiferença diante da fome. Minha vida não pode ser tomada por consciência crítica, mas pela consciência tranquila. Assim os ricos querem viver.
 
E até hoje não paro de pensar naquela pessoa com fome. Ali por perto há tantos restaurantes, tantas padarias, pois trata-se de um bairro de classe alta. Mas aquele homem não estava pedindo um prato de comida na porta do restaurante, apenas um coco que ia para o lixo, pois nos sacos pretos fechados havia tantos cocos vazios. Mas nem isso lhe foi permitido tocar. Apenas pegar um coco que estava para ser ensacado e destinado ao caminhão que colhe o lixo das ruas.
 
Meu pensamento fica ainda mais pesado quando imagino que quem se mostrou indiferente para cortar aquele coco também era um pobre. Aquele facão parece não ter sido feito para ajudar os famintos, mas para saciar a sede dos ricos. Arrependimento e muita dor no coração por causa de um simples coco, mas para aquele morador de rua era o seu almoço.
Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 06/10/2021
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