Edebrande Cavalieri
A escrita é a salvação do espírito, da alma e do corpo.
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Proximidade vivencial

Foi-se o tempo em que tudo era próximo mesmo estando geograficamente distante. Que paradoxo! A proximidade independe da dimensão geográfica.

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Naquele mesmo mundo de proximidades vivenciais, distantes ficavam os bens de consumo, inclusive os alimentos. Como era difícil conservar carnes e peixe sem geladeira! Não havia mercadinho para tudo o que quiséssemos. Naquela vendinha somente sal, farinha de trigo e açúcar cristalizado. Ah! Não podia faltar uma enormidade de garrafas de cachaça. Vinho? Jamais! Não existia.

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Apesar dessa carência toda tínhamos a proximidade vivencial. Todos nossos entes queridos estavam por perto. A qualquer momento era possível chegar na casa da vovó para comer aquele pão feito no forno a lenha. E os biscoitos de polvilho tanto de mandioca como de araruta? Que delícia! O polvilho não era comprado mas produzido com a farinha de mandioca ou com as raízes de araruta socadas no pilão.

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Essa proximidade entre todos os membros de uma família envolvia tios, irmãos, primos de vários graus, enfim, a parentada estava toda por perto. Além desse núcleo familiar cada vez maior, ainda havia a vizinhança, que mesmo morando distante geograficamente, tinha-se bem pertinho na vivência cotidiana.

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Sem aparelho de televisão, raramente um radio a pilha que era mais para ouvir cultos religiosos ou os jogos de futebol dos times do coração, sobrava tempo para se ouvir os causos, as histórias das imigrações, as histórias de vida. Horas e horas pais e avós contando história, o que acabava levando as crianças menores ao sono.

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Como era gostoso viver assim na casa de meus avós! De noite dava medo a escuridão, mas aprendíamos a ter coragem e vencer o medo. Melhores eram as noites de lua cheia. Tempo bom para sair com os cachorros em meio às plantações de mandioca e batata para caçar tatu. Nessas noites enluaradas era sempre certo que se chegava com no mínimo um belo tatu a ser limpo e cozido para a festa da turma, sempre regada a uma boa cachaça.

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Hoje parece que esse mundo desapareceu de nossas existências. Vivemos próximos ou não geograficamente, com todos os bens de consumo e de diversão ao nosso alcance, mas nos distanciamos cada vez mais dos bens da vida, do viver e do conviver. Nossos netos terão de nós vagas lembranças no futuro. É o que resta. Vivências vagas!

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Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 23/10/2021
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