Edebrande Cavalieri
A escrita é a salvação do espírito, da alma e do corpo.
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Convite para não perder o humor

Um dos médicos que me acompanha depois de vários exames laboratoriais me prescreveu uma dieta começando pela supressão da carne vermelha. Já fui logo pensando: “esse cara odeia marxista”. Por que tanta fixação na cor vermelha. Acho-a uma das cores mais lindas. Como é linda uma rosa vermelha! Seria então uma rosa comunista? Enfim, vamos ouvir até o fim suas recomendações. Achei que ele iria me pedir para retornar daqui a um ano. Não! Quer me ver daqui a quatro meses.

E eu terei que suportar esse preconceito ao vermelho. Não sei se irei aguentar essa carga ideológica. Mas ele não me parecia ser um capitalista explorador. Ficou mais de uma hora comigo na consulta. Coisa rara na prática médica atual. Quando um médico chega a quinze minutos na consulta, logo se sabe que o problema daquela pessoa é muito grave. Tem médico que nem olha para o paciente. Enfim, o meu médico ficou comigo mais de uma hora. E na consulta de revisão, mostrando os exames, mais uma hora. Parecia que ele estava dando uma aula para mim.

Mas a carne vermelha já tinha sido banida. Nem abriu para negociação. Fiquei triste, pois mesmo tão cara a bendita vermelha sempre nos faz feliz como um bife acebolado, uma carne na panela, uma costela, enfim, tudo o que é vermelho parece muito bom. Ops. Algum leitor já vai pensar que estou cooptando algum camarada para o socialismo. Nada disso meus caros.

Bom! Mas esse médico me sugeriu quase obrigando a ir num nutricionista. E logo pensei. Vai ser a oportunidade de rechaçar essa interdição da carne vermelha. E lá fui todo animado encontrar com a nutricionista na semana seguinte, aproveitando esse tempo para continuar comendo carne vermelha. É assim que se faz. Vai que essa nutricionista também tenha alguma rejeição ao vermelho! Seria um absurdo uma mulher ser contra o vermelho. Que não goste, tudo bem. Mas partir para sua eliminação, sua exclusão, da vida de uma pessoa que sempre pautou sua vida intelectual pelo equilíbrio, e jamais pela força totalitária!

Essa nutricionista reservou duas horas para minha consulta. Logo pensei. Esse mundo eu desconheço. Acho que vou morrer daqui a alguns dias. Estão me preparando para um final mais tranquilo. Tanto tempo para consulta? Enfim, uma pulga atrás da orelha, outra na cabeça, outra nas costas, enfim, no corpo todo com pulgas. Credo! Tudo por causa da cor vermelha? Bem que a carne de boi e de porco poderia ser azul! Mas, carne azulada é comida de moscas varejeiras. Já está apodrecida. Inapta para a alimentação dos humanos. Então, não tem como resolver o problema ideológico da carne vermelha.

A nutricionista começa um papo longo, ouvindo todas as minhas rotinas alimentares, minhas dietas e exercícios. E eu tentando mostrar que não era nenhum tarado pela cor vermelha. Nem mencionei a dita cuja. Mas ela perguntou. Eu disse que comia, mas raramente. Preferia sempre peixe e frutos do mar e frango. Ela disse: - que ótimo. Você está de parabéns. Pensei que tinha resolvido a questão.

Então ela foi detalhando a dieta alimentar mudando, eliminando, banindo. Tinha a impressão de estar no tribunal do santo ofício. Quantas almas (comidas) lançadas à fogueira. Para cada alimento, mesmo que fosse um vegetal era um júri desfilando acusações e condenações. E eu na expectativa. Vai chegar a hora do juízo final da carne vermelha! Eu queria que ela fosse condenada pelo menos no purgatório. Mas, tadinha, ela nunca me fez mal algum. Deveria ir para o céu direto.

O veredito chegou. “Vamos deixar a carne vermelha apenas para eventos sociais”. E ela completou: “você nem precisa comprar pra levar para casa. Vai economizar muito. Deixe que seus amigos o convidem para um churrasco. Nesses tempos de tamanha carestia não haverá tantos amigos para churrasco todas as semanas”.

Então, voltei para casa passando longe do açougue. Vou economizar minha grana. Fiquei feliz, pois nesse preço, acho que valeu a pena a proibição. Até a questão ideológica não ficaria tão pesada nesse novo formato de dieta.

Então me bateu uma saudade tão grande dos meus amigos. Aí fiquei pensando na retomada do convívio social, uma vez que já estou "reforçado" contra a covid-19. Tomei duas dozes da CoronaVac e uma da Pfizer.

Estou abrindo a agenda para churrascos nos sábados e domingos em qualquer lugar do meu entorno e também na minha casa. Acho que está de bom tamanho. Se algum amigo estiver lendo essa crônica eu gostaria de saber de sua opinião. O que meus amigos acham? Cada um seria responsável pela minha saúde física e social. Vamos encarar essa dieta comigo? Sábado e domingo não terei tarefa de cozinha. Não teremos ne. As mulheres ficarão muito felizes e livres, no caso daqueles homens machistas que não refrescam para as tarefas domésticas.

Ah! Cerveja nem pensar, mesmo que seja zero. Posso tomar vinho branco (de preferência alentejano) ou caipivodka. Refrigerante não. Mas posso tomar e adoro suco de abacaxi com vodka.

Na revisão médica falarei para eles desse meu projeto de dieta. O pior é que a endocrino quer ver tudo isso e já me agendou uma ida ao seu consultório. O controle ideológico não é brincadeira. Acho que estou ferrado mesmo! kkkkkkk O cardiologista é mais liberal que endocrino.

Loucura médica. Só falta aparecer psicólogo ou psicanalista atravessando o meu projeto de vida me mandando para o divã. Querem me enlouquecer. Será que o destino dos aposentados é essa loucura infinita? Vida que te quero bem, não me deixe perder o humor. Isso me basta.

 

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 27/10/2021
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