Na vida de pobre que viveu em ambiente rural
Entre as diversas experiências significativas
É marcante o andar descalço.
Pode-se andar no curral,
Sujar os pés com estrume
Que fede e empreteia os pés.
Animais sem laço,
Vida que segue seu ritmo,
O andante não teme furar sua pele.
Mas em dia de domingo
Ou numa festa do santo padroeiro
O pobre caminha até pertinho da Igreja
Onde corre um pequeno riacho.
Ali limpa toda a sujeira
E calça aquele sapato nada social.
Uma conga
Ou um tênis,
Sem meia e sem etiqueta.
É preciso rezar para aguentar
O sol escaldante que tudo seca
Ou a chuva que inunda todas as estradas de barro.
Depois da reza que segue o rito litúrgico popular,
É a hora daquele momento de descontração
Com uma pinga sem medição
Que desce pela garganta e limpa a dor,
O sofrimento,
A dureza da vida enlameada
Ou empoeirada.
Tanto faz.
Que seja um gole para a paz.
E o resto para o santo.
Novamente os pés no barro ou na poeira
Ou mesmo, se der sorte, no gramado
Para se tentar um momento de campeão
Com uma bola de couro ganha em época de eleição.
Depois de quatro anos,
Só resta o couro da redondinha
Uma pequena pele.
Pode explodir, mas na espera de um candidato que traga outra novinha
Para garantir pelo menos onze votos.
O cenário fica ainda mais bonito
Se outro candidato aparecer com camisas de time de futebol
Não importando as cores.
E quando não se tem a sorte desse presente
O jeito é vestir a própria pele,
Sem camisa,
No sol escaldante
Ou na chuva.
Agora é o corpo todo
Que sucumbe às forças da natureza.
Mas diferente do dia a dia
Ganhando o pão nosso
Sem trégua
Sem medo.
Os mesmos pés enlameados
Conduzem o trabalhador
Que rompe sua dor
Nos poucos momentos de um domingo
Entre o campo de jogo e o andor.