Edebrande Cavalieri
A escrita é a salvação do espírito, da alma e do corpo.
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Pastinho do Rio Doce

Não se trata de uma cidade,

mas tem nome muito sugestivo.

Em vez da lama de Mariana

tínhamos a Mata virgem,

conhecida como Mata atlântica.

 

Era preciso trabalhar com machado

derrubando perobas e jacarandás,

Ipês e Jatobás.

Cobras e lagartos em profusão.

Era preciso evitar as mordidas venenosas

que matavam em instantes.

 

Recursos farmacêuticos

estavam distantes horas e horas a cavalo.

Carro, nem pensar.

Somente caminhões para transportar a madeira

e o café que viria depois da derrubada.

O fogo era amigo que destruía o matagal para o cultivo

e também inferno,

invadia plantações

e destruía as pastagens.

 

A fumaça inundava os pulmões.

Onde estava o Pastinho do Rio Doce?

Apenas um nome que pairava na imaginação.

Era preciso muito fogo para destruir toda aquela madeirama.

Era preciso chuva para fazer crescer a grama.

e o Pastinho hoje mora no meu coração.

Desapareceu!

Agora as matas de eucaliptos

formando um deserto verde.

 

Os riachos secaram.

Triste e sem vida,

o pastinho parece mais deserto

que sonho.

Mais tristeza

que alegria.

 

A fumaça era prenúncio do inferno

que estava sendo instituído pela ganância.

Hoje nem a infância

permanece como lembrança boa.

Um paraíso perdido!

Um sonho interrompido!

Uma vida sepultada!

Nem o Rio permanece Doce,

pois a lama da Samarco matou tudo.

 

O rio secou e suas margens desapareceram.

Então nem sei mais

se tenho saudade ou esperança

de ver um pastinho sob a forma de floresta densa.

Aquela igrejinha ainda imponente,

mas vazia.

Ainda em dia de festa uma vez por ano.

 

Os corações tocados pela saudade

retornam para uma reza,

sem aquela fé passada.

A terra sofreu tanto que nem veste mais o verde

daquele pastinho sonhado,

e não realizado.

 

A dor da terra é também a dor de quem viveu aquele paraíso verde.

O castigo pelo pecado cometido é impiedoso.

Quando também a saudade morrer

restará apenas o sofrimento da terra desnuda.

Sua companheira, a morte eterna!

 

Deixo o meu pedido:

- Quem ousar salvar a terra,

salve primeiro meu Pastinho do Rio Doce.

- Que ele ressuscite forte e belo

das cinzas deixadas pelo fogo

como um fênix para a eternidade.

 

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 10/11/2021
Alterado em 09/12/2021
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