Não se trata de uma cidade,
mas tem nome muito sugestivo.
Em vez da lama de Mariana
tínhamos a Mata virgem,
conhecida como Mata atlântica.
Era preciso trabalhar com machado
derrubando perobas e jacarandás,
Ipês e Jatobás.
Cobras e lagartos em profusão.
Era preciso evitar as mordidas venenosas
que matavam em instantes.
Recursos farmacêuticos
estavam distantes horas e horas a cavalo.
Carro, nem pensar.
Somente caminhões para transportar a madeira
e o café que viria depois da derrubada.
O fogo era amigo que destruía o matagal para o cultivo
e também inferno,
invadia plantações
e destruía as pastagens.
A fumaça inundava os pulmões.
Onde estava o Pastinho do Rio Doce?
Apenas um nome que pairava na imaginação.
Era preciso muito fogo para destruir toda aquela madeirama.
Era preciso chuva para fazer crescer a grama.
e o Pastinho hoje mora no meu coração.
Desapareceu!
Agora as matas de eucaliptos
formando um deserto verde.
Os riachos secaram.
Triste e sem vida,
o pastinho parece mais deserto
que sonho.
Mais tristeza
que alegria.
A fumaça era prenúncio do inferno
que estava sendo instituído pela ganância.
Hoje nem a infância
permanece como lembrança boa.
Um paraíso perdido!
Um sonho interrompido!
Uma vida sepultada!
Nem o Rio permanece Doce,
pois a lama da Samarco matou tudo.
O rio secou e suas margens desapareceram.
Então nem sei mais
se tenho saudade ou esperança
de ver um pastinho sob a forma de floresta densa.
Aquela igrejinha ainda imponente,
mas vazia.
Ainda em dia de festa uma vez por ano.
Os corações tocados pela saudade
retornam para uma reza,
sem aquela fé passada.
A terra sofreu tanto que nem veste mais o verde
daquele pastinho sonhado,
e não realizado.
A dor da terra é também a dor de quem viveu aquele paraíso verde.
O castigo pelo pecado cometido é impiedoso.
Quando também a saudade morrer
restará apenas o sofrimento da terra desnuda.
Sua companheira, a morte eterna!
Deixo o meu pedido:
- Quem ousar salvar a terra,
salve primeiro meu Pastinho do Rio Doce.
- Que ele ressuscite forte e belo
das cinzas deixadas pelo fogo
como um fênix para a eternidade.