Um processo contra um padre,
Uma guerra de narrativas,
Parece um verdadeiro Fla-Flu
Com gol anulado injustamente.
E eis que o padre ameaça
Deixar a cidade.
Dois exércitos se formam.
Seriam novas cruzadas?
Mas que culpa tem os sinos?
Ali foram postos para chamar o povo.
Vivemos um mundo de surdos
Que nem os sinos mais podem mostrar sua arte sônica.
Há muito tempo que eles foram calados
E juntos deles também as pessoas foram silenciadas.
Vive-se numa barulheira,
Silenciosa.
Que paradoxo!
O pipocar de fuzis e metralhadoras
Garantem o som das madrugadas
E também dos dias claros.
Quanta diferença do som sinal.
Mas os sinos não podem soar.
O ronco das motos
Com cano de descarga aberto
Em alta velocidade
Estremecem a cidade.
Os fogos afugentam os pets
Que se escondem debaixo das mesas das casas.
E os sinos emudeceram para sempre.
Como era lindo ouvir os três sinos daquela capelinha do interior
Tocados em forma de arte harmônica,
Com cada toque de acordo com o acontecimento.
Os três sinos, em movimento acorde,
Celebravam os chamados para a oração e a festa.
Mas um toque apenas,
Geralmente do mais grave
Era sinal que alguma pessoa
Caiu em silêncio profundo
E seria enterrada no dia seguinte.
Os sinos chamavam para a festa
E para a morte.
Mas agora foram silenciados.
Acho que nosso mundo perdeu o rumo do encanto
Só lamento e tristeza.
Não dá para calar a alegria,
Não dá para silenciar a convocação para a paz.
A guerra na cidade instituída
É que precisa ser silenciada,
Para ouvirmos apenas o som da paz.