Edebrande Cavalieri
A escrita é a salvação do espírito, da alma e do corpo.
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À minha sombra

Não me lembro de algum dia ter pensado na minha sombra.

Mas ela nunca me abandonou.

Às vezes fica bem nítida sobre o caminho,

outras vezes parece que pisamos nela integralmente,

pois não sobra nem um centímetro dela.

 

Parece nesse momento que ela nos abandou,

porém é quando ela se incorpora totalmente em nosso corpo.

Tem dias em que a sombra não aparece,

e ela está ali,

bastando apenas uma pequena lâmpada do nosso lado.

Ela, então, ressurge com todo vigor.

 

Como deve ser difícil nos acompanhar!

Fazemos tantas estripulias,

tantos saltos

tantas correrias.

e ela ali coladinha em nosso corpo.

Nem precisa dele todo,

basta apenas um fragmento

que é por onde ela se inicia.

 

Ela nunca começa pela cabeça!

Isso nos causa assombro,

pois imaginamos sempre a partir do cérebro.

Toda sobra começa pelos pés.

 

Nascemos pelo umbigo,

pelo meio do corpo,

pas o umbigo da sombra está na sola dos pés.

 

O dia nascente

e o dia poente

são os momentos em que ela mais aparece,

plena, longa,

parece tomar conta do mundo.

No sol a pino,

emudece.

 

Estou sentindo que a sombra que nunca me abandona

tem muito a me ensinar,

bastando apenas prestar atenção.

Estou considerando que o importante

não é pisar na sombra

fazendo ela desaparecer,

mas deixá-la ser o mais estendida possível

para que outras pessoas possam proteger

seus pés do caminho escaldante.

E, preferencialmente, com água refrescante.

 

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 20/11/2021
Alterado em 10/12/2021
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