Vinte anos passados
desde aquele momento em que uma decisão
muda sua vida!
Noite fria com chuvinha fina,
numa São Paulo de garoa
e o último maço no bolso,
com aqueles vinte companheiros de tantos anos.
Tantos iguais a eles se foram
tornando-se cinzas de um vício.
Cinzas de um prazer!
Cada pequeno acompanhante
coroava um momento especial,
uma transa gostosa,
ou mesmo um simples cafezinho.
A fumacinha branca que formava molduras no ar,
cheia de curvaturas que se moviam
embelezando aquele momento.
Como esquecer!
Foram tantos anos nessa convivência harmoniosa,
convivência de quem se ama
e se jura nunca apartar.
Nunca aqueles companheiros nos deixavam na solidão.
Mesmo nos momentos tristes ou raivosos
ali estavam para amenizar o peso e a dor.
Mas agora era chegada a hora!
Era preciso se apartar daquele convívio.
Era preciso dizer adeus.
Sem descartar nenhum deles.
O último que veio à boca
parecia evaporar em segundos.
Não há mais tempo,
o motorista do ônibus aguardando
a despedida silenciosa.
A despedida não desejada!
Ali ao pé da escada daquele veículo.
A última tragada!
Assim recordando cada um daqueles companheiros,
sem remorso numa convivência de tantos anos,
o prazer daquele caminho feito em parceria
num vício que se tornou maldito!
Hoje eles merecem sim minha lembrança.
Meu poema de inebriar a alma!
Meus pulmões agradecidos!
E meu coração fortalecido!
Que as formas daquelas ondas brancas
voando pelo ar
hoje se transformem em versos
para embelezar os caminhos da saudade.