Nunca entendi direito aquele clima das jovens tardes de domingo
tão cantadas e encantadas pelos cantores da Jovem Guarda.
A tarde de domingo difere de qualquer outra tarde.
Está mais para o lado do tédio que dos carrões levando pessoas felizes.
As tardes de domingo são mornas, cor cinza, cheias de fumaça.
E querem nos culpar por sentir isso.
Não suportamos o ritmo continuo da vida
e por isso quebramos o tempo de sete dias, para o descanso?
O escritor bíblico não quis se envolver com questões psicológicas,
e então falou nesse descanso que o capitalismo insiste em subtrair do trabalhador.
Era preciso inserir uma ruptura no tempo para que ele não se tornasse enfadonho.
As tardes de domingo nos mostram o mesmo lado da ruptura,
voltando tudo na mesma rotina.
O tédio da tarde de domingo é o nosso destino.
Aqueles carroes eram ilusões, alienações.
Dissimulação da dureza da vida de trabalho
e da vida política daqueles tempos difíceis.
Então hoje fico com o meu nada.
Sem culpa e sem ilusão.
Amanhã há de ser outro dia.