Tenho pensado o tempo todo
por que somente agora esse impulso
num mundo distante e não familiar?
Os versos assumem meus pulsos
e parecem não mais se afastar.
Se aos sessenta assim se chega
não tenho como negar minha doação
nesse mundo onde somente conheci canção.
Achava que o poema era coisa sagrada demais.
Que os versos não cabiam no meu rimar.
Pobre de mim se me metesse nesse lugar
compatível apenas aos deuses!
Quando bem jovem tentei uns versos
e até acabaram sendo bem feitos.
Mas da vida me sugaram os adversos
numa luta pela mísera sobrevivência.
Quem me dera beber do néctar divino!
Quem me dera chegar ao Olimpo
e viver assim na presença daqueles
sonhos que embalaram meu destino!
Deixarei então meus sonhos escritos
para preencher toda minha idade,
cada minuto como se fosse uma eternidade.
Então saberei que me valeu a eternidade.
E farei nessa vida uma grande ponte
que alcance todo o horizonte
e assim jamais desafiarei os deuses
que estiveram ao meu lado
e me acolheram naqueles momentos
em que o naufrágio parecia inevitável.
Passarei então por todos os tormentos
e glorificarei para sempre
as ações das Musas inspiradoras.