Tudo arrumado para a grande celebração,
rigorosamente preparada pela equipe de liturgia.
Ainda era dia.
Então o celebrante chega ao altar
e inicia aquela grande oração
na forma de eucaristia.
Um ser humano descalço,
sem camisa e muito sujo,
cabelos desalinhados e grandes,
segurando um pote com comida,
entra naquele espaço sagrado.
Por que deixaram aquele “bicho” adentrar?
Alguns pensavam em seus corações contritos,
mas não tiveram coragem de brecar o caminhante.
Aquele ser errante
andando firme em direção ao altar
e todos os orantes olhando sem piscar.
Vai ver que merda teremos!
Eis que aquele homem "herege",
que se aventurou a pisar o solo sagrado,
posta-se diante de altar de joelhos.
Todos os orantes atônitos!
Tantos pensavam: isso vai dar “merda”!
Onde já se viu isso?
E do seu alto posto no altar
o celebrante caminha até aquele mendigo,
ajoelha-se e inicia um longo diálogo.
Celebração parada e todos em silêncio.
Grande momento de pura contemplação.
Mas também de medo.
E aquele "herege" pede uma simples bênção
e que o padre reze por ele.
Logo a notícia se espalhou
pela cidade e por todos os lugares.
Era algo tão raro, parece,
que até o padre ficou espantado
com tamanha notoriedade.
Talvez seja esse gesto
o melhor presente de Natal que se poderia dar
para aquela comunidade cristã:
Gesto concreto de pura misericórdia.