Na virada do milênio
Quase toda a humanidade era movida por uma forte expectativa:
Um novo mundo haveria de nascer
No solo da penúria,
No leito do sofrimento,
Na escassez de bens sólidos.
Tudo foi configurado como líquido,
Até os amores tornarem líquidos.
A salvação viria na virada!
Era um réveillon do milênio.
E logo alguns arquitetos da política mundial
Trataram de erguer muros,
Jogando toda esperança no chão.
As luzes da nova aurora foram escurecendo.
O novo revestiu-se de obscurantismo!
A vida embruteceu-se!
As forças esgotaram-se
E a paz definhou de vez.
A pandemia coroou o caminho do sofrimento.
Musas vieram ao meu encontro,
Tomaram minhas palavras
Transformando-as em poemas.
Levantou do chão o que estava agonizando,
Mostrando todo o seu poder.
Então me fez como palavras,
Ditas, não ditas, escritas ou faladas,
que são o meu espírito e minha alma.
Era a poesia vindo ao meu encontro em tempos finais,
Tempos apocalípticos.
E assim serei eterno
deixando meu legado a todos,
que me buscarem nas palavras.