Cada um de nós tem um tempo determinado de existência, em que alguns vivem mais e outros menos, ou quase nada. Uns deixam tantos bens, outros nada deixam, aparentemente.
Tantas brigas se dão pelas heranças, tantas ameaças, tantas agressões, que nem se lembra que um dia tudo era paz, tudo era harmonia, amor, felicidade.
Talvez tudo mude tanto na visão das pessoas, na vida de tantos buscadores de herança, porque os homens erram no que deixar e para quem deixar.
Então me pergunto sobre o que estarei deixando aqui na terra e para quem essas coisas ficarão. Talvez um testamento meio poético seja o melhor caminho.
Pelas estradas percorridas quero deixar um aroma com cheiro de gente, de amantes, em que o amor se reparta sem ficar diminuto. Esse é o verdadeiro amor que deixarei como herança. Não precisam de ter pressa, pois haverá o mesmo amor para todos, na mesma quantidade.
Quero deixar em crônicas a história dos encontros, em que o alimento era mais um ingrediente no sabor da amizade, do querer bem. Tanta comida que nunca sobrou, pois nesse refeitório a partilha permitiu a saciedade.
Por fim, as pessoas mesmo as que eu nunca vi quero lhes deixar versos, muitos versos, tristes e alegres, pois a poesia foi um caminho que encontrei para me salvar nos tempos da pandemia.
Assim como os alimentos, essa herança também é infindável. Cada um levará aquilo que achar necessário ao seu bem estar e haverá disponibilidade para todos. Não haverá briga judicial, pois o mesmo verso poderá ser herdado por infinitas pessoas.
Assim o caminho da poesia poderá ser percorrido pelos herdeiros. Penso que essa seja a melhor e maior herança que iremos deixar para a humanidade. Quero deixar um mundo cheirando a poesia, com sabor de poesia, numa brisa leve que nos embala e assim seremos todos eternos.