Na solidão imposta pela pandemia, sem ter com quem contar, o tempo era pura incerteza.
Era preciso sobreviver, cuidando para não ficar contaminado. Assim fomos rompendo.
Cada dia era uma vitória, mas sem luz no fundo, no túnel, o medo tomava conta de nossas existências. Era preciso ocupar a mente, com alguma semente, com algum fazer.
Ânsia de falar, vontade de gritar ao mundo, sem êxito, o derradeiro momento parecia chegar. Era preciso agir.
Então uma visita inesperada, preparada, parecia ser mentira. Veio como isca de pesca. Era o momento de aproveitar. E logo no primeiro içar chega um belo poema.
Preparado com caldo refrescante, uma lembrança, o prato fica pronto. Era preciso oferecer a convidados distantes. Mas outros poemas foram aparecendo e a variedade poética ultrapassou a reclusão e tornou-se festa.
O tempo me fez pescador incansável de poemas. De dia, de noite, madrugada, em qualquer lugar os anzóis da imaginação vão trazendo tantos versos, envoltos em cuidado vão ganhando o prêmio da eternidade.