Matricídio
A lembrança mais forte dos tempos de criança
Não estava nas brincadeiras
Mas nos caminhos que percorria pelas matas e pastagens,
Nas encostas e recantos de cada morro.
A sede que acompanhava ao longo do dia
Só tinha uma forma de ser saciada:
Encontrar uma nascente em meio à mata,
Onde pássaros e animais também acorriam para matar a sede.
Eram verdadeiros olhos, olhos d’água,
Borbulhantes como lágrimas,
Refrescantes em dia de sol a pino.
A terra parecia uma geladeira com água fresca e filtrada.
E tomando uma folha de bananeira ou de inhame,
Ou mesmos nas mãos ajuntadas,
Com o suor pingando pelos poros,
Garganta seca,
Aquela água refrescante
Nos elevava ao prazer da vida.
Era a melhor água do mundo,
Aquela que nascia nos olhos da terra.
Hoje quem está morrendo de sede
Foi quem nos saciava abundantemente.
Matamos nossa mãe,
Que hoje chora nossa ingratidão.
Cometemos um matricídio imperdoável.
Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 06/06/2022
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