Esse tem nome de pessoa,
Dá inveja sua altivez,
Talvez seja o único pássaro assim chamado.
Desde pequeno ficava observando seu trabalho,
Carregando barro naquele bico pequeno.
Sua casa de alvenaria da melhor qualidade,
Barro misturado com esterco e palha,
Suporta chuva e vendaval.
Tudo para guardar a ninhada que ali nascerá.
Mas essa mansão atrai invasores preguiçosos,
Que não constroem ninhos e vivem à espreita.
Se o João der bobeira, sua casa será tomada,
Sua terra será invadida.
Dizem que outros pássaros se aproveitam dessa mansão,
E ali colocam seus ovinhos,
E a pobre mulher do João chocará não apenas seus ovos,
E terá também que alimentar outros filhotes ao nascer.
Mas o João nunca desiste de sua engenharia.
Representa muito bem o homem do campo,
O pouco que tinha lhe foi tomado.
João de Barro é a grande metáfora social.
As matas queimadas expulsam os Joões e os Josés,
Até a pobre coruja teve que cavar a terra
E ali fazer seu ninho e ser chamada de buraqueira.
A vida se transformou com tantos Joões,
Tantos barraqueiros com cheiro de pólvora no ar,
Aquela paz no barro derreteu-se no calor,
Somente fumaça nas alturas
Aquelas casas de barro tornaram-se sepulturas.