A tristeza de um cenário antes bem verdejante vai encobrindo o horizonte e permanecendo no olhar desolado daquele homem que conhece o que um dia foi encanto. Aquelas matas e córregos torrenciais abrigavam tantos animais, orquestras sem desafinação, ao som do batuque dos sapos a coalhar. O canto alegre dos pássaros sinalizava que havia muita vida naqueles espaços que pareciam tocar os céus.
Cada árvore que crescia mais que as outras era como se gritasse ao mundo que a vida era plena daí por baixo. Então aqueles pássaros vindo de todos os lugares chegavam para abrigar-se na noite escura ou mesmo no luar. Era o tempo de descanso depois de tantos voos. Para alguns deles ali estava também sua casinha com ovos ou filhotes. Bem no alto. Longe daquelas malditas serpentes, dos gambás, dos comedores de ovos e filhotes.
A sensualidade daqueles montes verdejantes, em curvas bem delineadas, movimentos secretos e indiscretos, tudo conspirando para a festa do prazer desmedido, do gozo incontido. Cada vale era assim o caminho do mistério, do sexo sem maldade.
Mas aquela roupa verdejante e forte foi rasgada impiedosamente pelo fogo da dominação, as chamas tornaram-se línguas da maldade. Um estrupo hediondo. Parecia um inferno na terra. A voracidade do fogo e sua velocidade abocanhava tudo. Não havia mais tempo para a salvação. A mata ficou cor negra, cinza, e sua nudez mostrou não a sua vergonha, mas a ganância dos homens.
Aquela nudez coberta de verde, com vales sensuais, folhas pontiagudas parecendo sexo excitado, agora tornou-se nudez amarela, tudo em silêncio, nem mais aqueles movimentos atraentes e nem aquela sinfonia. Apenas o vento uivante e tenebroso. Quando o céu chora lágrimas, tudo escorre e arrancada ainda mais a pele daqueles montes.
A montanha nua vai ficando cada vez mais uma senhora sob a forma de caveira, osso puro, que mete medo. A montanha nua é a coisa mais broxante na face da terra. Seu tesão é pó! Sua pulsão é de morte.