Desde cedo acordei com vontade de escrever algo,
Mas as angústias dos dias atuais me atormentam,
Me prendem a respiração
E bloqueiam o coração.
As memórias infantis povoam minha mente,
E logo aparece minha infância numa casinha de estuque.
Do chão duro da vida nada me atormentava,
De medo apenas do escuro da noite,
Dos animais ferozes ou vaca de bezerro novo.
Também vem à memória a infância de meus filhos,
Que comigo iam às urnas numa festa da democracia,
Muitas torcidas diferentes, muitas músicas entoadas,
No horizonte apenas a festa em longas filas para votar.
Medo de nada, torcidas inflamadas, apenas torcidas.
Se eu fosse criança hoje temeria a vida de meus pais,
Pediria que nada falassem e nem adesivos usassem.
O que eu mais pediria ao Papai do Céu
E que acabasse logo com essa guerra fratricida,
Esse ódio entre irmãos, famílias divididas,
Primos separados e amigos em posição de ataque.
Se eu fosse criança hoje teria muita vergonha!
Esse mundo tornou-se território do demônio,
Dominado por cruzados armados
“Em nome de Deus”,
Desfilados para matar.
Se eu fosse criança
Tentaria encontrar aquele que disse um dia:
“Deixai vir a mim as criancinhas,
Pois delas é o Reino dos Céus”.