Nunca me esqueço do primeiro dia,
Do frio na barriga e mãos suadas,
Uma caixa de giz e um apagador,
Um livro na mão e uma lista de nomes,
Eram cinquenta. Tantos olhares!
Como carregar uma função tão nobre!
Tudo me parecia grande demais em mim.
Não! Não merecia isso! Muito elevado!
Cada minuto era uma eternidade,
Batia muito medo de não corresponder.
À minha frente jovens felizes!
Difícil silêncio! Tanta fartura de alegria!
Turmas e mais turmas,
Turnos interligados num mesmo palco.
Pátios em gritarias e conversas
Fartura de futuro, e eu aí contemplando.
Foram passando os dias, os anos...
Abrindo horizontes em cada época.
Dos tempos do silêncio compulsório
Aos momentos da democracia quase plena.
A liberdade de ensinar e de aprender nas mãos!
Ao final, um horizonte sombrio, nuvens escuras, carregadas,
Sinais de grandes turbulências
E novamente o medo!
Medo de falar, de ser livre, de construir mentes sadias.
Tudo parece proibido de ser dito!
Censura nos dedos das mãos dos novos jovens.
Tudo pode ser gravado, filmado, denunciado...
Interpretado conforme os interesses do poder.
Agora o medo me corrói, me destrói por dentro.
Sem liberdade, o medo de ensinar vai fechando os horizontes.
Como em Esparta antiga: educar para o silêncio!
Educar para a mudez! Educar para afastar o diferente,
O estrangeiro é sempre ameaça.
Em vez do frio na barriga que provocava,
Hoje o medo é a sepultura da educação.
Em vez da caixa de giz, o caixão da morte intelectual.
Em vez da fartura de sorrisos, a mesquinhez de mentes pobres.
Aos novos desbravadores do mundo da escola
Meu mais forte abraço, de coração apertado,
Com olhos lacrimejando,
As salas de aula estão vazias!