Edebrande Cavalieri
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O mito de Lilith

É muito difícil pensar que o povo judeu pudesse conviver com outros povos sem sofrer influência deles. Acreditar numa pureza ideológica nos dias atuais parece pura ingenuidade de quem alimenta a preguiça de pensar. Há narrativas míticas presentes entre os povos da Mesopotâmia e da Babilônia que apresentam uma deusa responsável pelos ventos e tempestades e que representava quase sempre o aparecimento de doenças, pragas e mortes. Trata-se de Lilith considerada na Idade Média como a primeira mulher de Adão, antes mesmo da criação de Eva.

 

Agora os fundamentalistas vão pirar de vez. O próprio texto bíblico do livro do Gêneses dá a entender essa história com uma interpretação plausível, por ser mítica. Quando na narrativa bíblica Deus criou Adão e depois lhe tirou uma costela e fez Eva, ele exclama: “Esta sim, é osso dos meus ossos”. Poderíamos também dizer essa frase da seguinte maneira: “Agora sim, esta é minha verdadeira mulher”.

 

Segundo a narrativa mítica, Lilith logo nos primeiros tempos de convivência com Adão pois foram criados ao mesmo tempo e não um antes do outro começou a aparecer discordâncias entre eles. Lilith achava-se em pé de igualdade com Adão, sem nenhum laço de dependência, sem hierarquia, sem antecedência criadora. Portanto, Lilith entendia que não deveria submeter-se a Adão de forma alguma. Recusa-se terminantemente submeter-se a Adão, o que não agradava em nada o homem machista já desde o início. Se Lilith é igual a Adão, por que submeter-se?

 

Conta a narrativa mítica que Lilith revoltou-se com a arrogância e prepotência de Adão e o abandonou sozinho no Jardim do Éden. Era para ele aprender a respeitar sua igual. E jamais retornou para esse lugar, mesmo atravessando muitas dificuldades. Conta-se inclusive que se encontrou com o Arcanjo Samael com quem teve um relacionamento amoroso.

 

As tradições dessa narrativa vão alimentando a imaginação conforme seus interesses e desejos. Assim, essa mesma deusa Lilith passa a ser considerada como um demônio feminino que agia durante a noite. A história da mulher nas mais diversas culturas foi alimentada por narrativas que fortaleciam o domínio masculino e desqualificavam o sexo feminino. A questão da superioridade masculina é complexa ao longo da história e a submissão feminina não tem nada de determinação biológica ou ontológica. É puro exercício de domínio, de poder.

 

Assim, nos dias atuais o lado mais conservador da sociedade fica pautando a política com elementos morais como a ideologia de gênero. Tanta perda de tempo com essas discussões. Se essas pessoas pegassem esse tempo para estudar um pouco, ganhariam muito mais. Estudem os mitos presentes nas culturas! E deixem a vida mais leve, mais colorida, mais viva. Viva Lilth! Em nada muda a minha fé em Deus.

 

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 19/10/2022
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