Na casa de estuque e chão batido
Sob a luz de lamparina a querosene
A comida sob medida
Nada a desperdiçar.
A farinha de mandioca era essencial,
O doce da cana feito garapa,
Adoçando café e bolo,
Da horta verduras poucas,
Apenas o sal era comprado.
Tecido era chamado de fazenda,
Corte e costura na medida,
Responsabilidade da mulher casada.
Tamancos feitos com madeira leve
E couro de boi curtido ou seco,
Eram usados para entrar na capelinha.
Das rezas todas as noites tinha alguma,
Novenas ou apenas uma celebração,
A fé nunca podia faltar, nem faiá.
Sem luz, num mundo isolados,
A fome era maior companheira.
Então de cinco filhos, apenas um dava pra manter,
Iniciando com o mais velho de onze anos
Restou apenas uma menina com aquele casal
Sem saber o que era pior, a fome ou a saudade.
Nem nas férias o encontro,
A experiência da miséria cruel,
Resultado da ganância sem coração.
Ainda do pouco a metade se retirava,
Meeiros retirantes,
A dor das feridas existências tem nome.
Pois viver era adormecer sem olhar para o amanhã.
Apenas era possível o hoje.