Em origens de muita pobreza,
Na roça, o trabalho a meia não dá segurança,
Nem casa para morar mais tempo.
Na cidade, torna-se bóia fria.
Como é forte o sentimento de não ter uma casa!
Ela representa o útero pós-parto
Então toda mudança será sempre um corte,
Um sangramento da ruptura de um cordão.
É da casa que vem nosso alimento,
Nossa vida inteira.
Viver sem esse útero é como estar abortado do mundo.
A maior solidão nos parece ser aquela de nossas ruas,
Adormecem entre ruídos e chão duro.
Resta apenas a morte por desterro.
Todos abortos de uma sociedade hipócrita.
Assim até aquele nascimento em Belém
Precisa ser desconstruído.
Fizeram dele um ambiente de paz romântica,
Mas na verdade era a mais cruel das realidades:
Não ter abrigo para parir,
Sem útero para morar.