Imaginemos como seria viver num mundo diferente do atual,
Onde inexiste qualquer meio de comunicação,
Nem energia elétrica e nem mesmo ondas de rádio a pilha,
Distante de qualquer povoação um pouco maior.
Um berro de um boi era um estrondo notado,
Um cantar de canário era a beleza de cada momento,
As quedas de água cristalina, um refrescante descanso,
Um encontro de outra pessoa, um grande momento.
Quando chegava o fim de semana,
Era tempo de rezar na capelinha,
Encontrar-se com os vizinhos "distantes"
Mas próximos na realidade de vazio
De notícias em geral
Da política nada se falava
Apenas o padre chegava um vez por ano para a desobriga.
A doença! Ah! Doenças! Por quê?
Chás de ervas de tantas espécies
E esperar a vontade dos céus.
Um milagre quase sempre acontecia.
Uma promessa era o mais indicado nas tormentas.
O amor quase sempre de cartas marcadas,
Sem alternativas para as escolhas,
A paixão era como uma obrigação definida.
O marchar dos cavalos vestidos com ferraduras
Dava o ritmo de um tempo pacato,
Onde o nascer e o morrer marcavam os destinos.
Nem sonhar cabia na vida,
E a vontade de voar esbarrava nos atoleiros
Da vida dura,
Da vida severina diria o poeta urbano.
Viver assim parece destino,
Porém é de onde se extrai o húmus do saber.
Da total carência, ao desejo de completude,
Da pobreza de um mundo distante,
As lembranças na vida de quietude.
Aos setenta chegarei assim carregado
E agradecido pelo tanto que me foi dado.
Obrigado, terra do nada e do tudo,
Da carência e da virtude.