Não é possível poetar a miséria,
A dor e o abandono.
Quando o lixo das ruas se mistura,
Tornando o humano seu semelhante,
É o fundo do poço de nossa humanidade.
Eis que em frente a prédios opulentos
Dormem ao relento homens e animais.
Na calçada ao meio dia dormem,
Um homem desumanizado pelo egoísmo
E dois cachorros humanizados pelo instinto.
A trindade na miséria se fez admiração,
A dor se transformou em sono.
Vontade de fotografar. Mas o que fotografar?
A dor do abandono humano
Ou a solidariedade animal humanizada?
Num instante,
Senti-me o lixo
Que não se lixa pela solidariedade do instinto.
Se Jesus aqui estivesse diria:
"Os animais vos procederão nos céus ".