Foi um tempo que ainda vive na memória,
Onde cruzamento de estrada de ferro
Exigia o famoso "Pare, olhe, escute".
Até música foi feita com essa metáfora
"Sinal fechado para nós que somos jovens".
Se havia cunho político podia ser,
Mas a imagem é muito mais profunda.
Quando o sinal está fechado,
Cuidado,
Atravessar é risco certo.
Esperar, como?
Tempo da ânsia e da pressa,
Rompe-se barreiras e não apenas sinal.
A prudência foi jogado no esgoto,
Sem tempo de espera.
E assim só cresce o número de atropelamentos.
Andamos quase sempre cheios de hematomas,
Muitas vezes com corpo engessado,
Outras vezes até nossas profundezas psíquicas
Engessadas e fraturadas.
Nas relações de amor,
O estupro da pressa,
A falta de atenção,
Ausência do cuidado,
Engessados ficam o carinho e o afeto,
Desafetos nos tornamos.
Morre-se a todo instante,
Perambulando fantasmas
Nas estradas apertadas
Sem travessia segura
A morte fica na esquina
A vida se torna amargura.
Atravessamos os sentimentos como numa encruzilhada,
Sem observar o sinal.