Acordei pensando em que gostaria ser,
Num mundo tão traiçoeiro, repleto de perigos,
E quase indefeso lançar-me nesse caminho
Em minha total nudez moral.
Como seria possível mostrar-me
Sem que os outros atirem pedras,
Sem ser pisoteado pelos donos da moral?
Pensei em ser um leão! Força e coragem.
Para quê? Devorar os outros?
Estou sem fome dos outros.
Meu problema não é comida.
Pensei em ser um camelo!
Nossa! Já estou cansado de tantas cargas!
Acrescentar mais pesos na vida...para quê?
As areias do deserto servem apenas para me recolher,
Não é mais travessia. Nem fantasia mais é.
Então nas areias da praia encontrei algo.
Bem livre ia se movendo nos arrecifes,
Parecia feliz percorrendo devagar o caminho,
Sentindo as águas do mar refrescar seu corpo.
E ao me ver, me viu como perigo.
Deve ter pensado: - Esse monstro vai me esmagar com o pé.
Recolheu-se repentinamente em seu próprio corpo,
E apontou a artilharia sob a forma de espinhos.
Assim descobri meu caminho de poeta:
Ao mostrar-me em minha nudez,
Na minha aparente indefensabilidade,
Saber recolher-me com os poemas apontados,
E dizer à monstruosidade inimiga:
- Devora-me como quiser,
Mas deixe-me livre peregrinando pelo mundo.
E assim se fez: desejo ser um ouriço com meus poemas.