Domingo, dia 04 de junho, Vila Mariana, São Paulo, dois policiais são chamados para uma ocorrência em que um morador em situação de rua havia roubado duas caixas de bombom de um mercado, avaliadas em R$ 30,00. Dois policiais amarram um homem negro com corda, pés e mãos na forma usada em pau de arara, e carregam pela rua até ser depositado no carro da polícia, mesmo já tendo sido algemado. Ainda não satisfeitos com a carga pesada levada para a delegacia, deixam trancado no carro por muito tempo (duas horas) até aquele corpo negro gritar que estava doendo muito.
A filmagem desse ocorrido percorreu as redes sociais a ponto de o Padre Júlio Lancelotti perguntar se a escravidão “tinha sido abolida”. Essa era a forma como tratavam os negros nas grandes fazendas ou trazidos nos navios negreiros.
Muitas questões podem ser feitas a partir dessas cenas de horror, da mais alta brutalidade cometida pelo Estado na pessoa de dois policiais. Não mais algemas são usadas, mas também cordas? Em que situação isso pode ser feito?
Imediatamente aqueles dois policiais foram afastados do trabalho. Seriam esses mesmos policiais que são contra a instalação de câmeras corporais nos uniformes dos policiais? Ah! É porque atrapalha o trabalho deles? Com certeza, uma câmera no uniforma vai atrapalhar mesmo esse trabalho dos tempos da escravidão.
Por outro lado, eram apenas duas caixas de bombons! Esses policiais nunca estudaram nada de Direito, especialmente o Artigo 155 do Código Penal que trata do princípio da insignificância ou bagatela em caso de roubo equivalente até a 10% do salário mínimo?
De que adiante depois as chefias do Estado através do comando da polícia militar alegar que não compactua com essa conduta. Está bem! Mas que treinamento é dado aos policiais? Que protocolos eles devem seguir nas abordagens? Parece-nos que há uma cadeia de erros e negligências tanto na formação da força policial como no julgamento de processos semelhantes ocorridos na própria corporação.
Preocupa-nos que isso esteja acontecendo num dos Estados mais desenvolvidos do Brasil, que possui todas as condições de dar à força policial o melhor treinamento. Também nos preocupa o fato de se ter nesse Estado representações fortes da política de extrema direita exercendo cargos públicos. Sabemos como esse quadro político trata a questão dos Direitos Humanos.
Enfim, mais um ocorrido policial que toma um corpo negro como se fosse um saco de lixo. Era assim que estava sendo carregado nas ruas aquele homem até o camburão da polícia e delegacia. Como lixo ficou no camburão aguardando a hora para ser descarregado. Apenas duas horas! Amarrado e algemado.