Diz a mitologia que Cuidado era um deus que moldou o homem feito de barro como seu semelhante. E foi chamado de homem por ser fértil. Portanto, a criatura que dai surgiu tem como essência criadora a dedicação pelo outro. É pura fertilidade, abertura de infinitas possibilidades.
O cuidado não se restringe a um ato pragmático, mas diante dele nasce infinitas possibilidades de vir-a-ser.
Não é um ato de bondade ou caridade, mas uma demonstração prática do que é importante naquele momento, naquela situação.
Trata-se de uma ação que vai além de um procedimento técnico, utilitário. É um compromisso com o outro e não um dever ou obrigação com o outro.
O sistema capitalista não nos ensina o cuidado com nada, apenas a intenção voltada para si mesmo. Por isso, é predatório. Devora a natureza da mesma forma como devora o outro homem. É explorador.
O homem enquanto herdeiro do cuidado tem na relação com os outros homens uma abertura de possibilidades para que cresça a vida entre eles. Não suporta ouvir o outro pedindo alguma coisa, pois nunca o considera um mendigo, mas um semelhante a si mesmo. O outro é possíbilidade do cuidado, do amor.
O cuidado com o outro não é uma obrigação decorrente de uma função social ou institucional. Cuidar é zelar. É dedicar-se ao outro. Captar suas necessidades sem que lhe seja pedido. É antecipar-se. Uma ação feita com antecipação do pedido nos lança num campo maior de vida, de vivência.
Não se trata de ser bonzinho com o outro. É um compromisso com o outro sem nenhum contrato de obrigações e deveres.
Ação resultante do cuidado é gratuita. Não há amor que sucumba no tempo se houver sempre a disposição na relação a dois com cuidado um com o outro.
Quando uma pessoa chega trazendo algo que você não pediu e lhe entrega dizendo que tinha pensado nela, a relação explode em possibilidades de vivência.
O cuidado é criador, é puro amor. Quem ama, cuida sempre!