Edebrande Cavalieri
A escrita é a salvação do espírito, da alma e do corpo.
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Médicos de rua

Cuidando da saúde de meu pai, por diversas vezes com ele internado em hospital por razões de saúde, nós dois passávamos a noite conversando até que eu dormia e ele ficava falando sozinho. Então, também fechava os olhos e dormia. Mas antes que eu abrisse os meus, os dele já estavam abertos à espera da oportunidade de continuar o papo. Como era bom ficar com ele de noite no hospital! Hoje sinto muita saudade daquele velho inculto nos livros e doutor na vida.

 

E um pedido que ele sempre me fazia era de mantê-lo distante dos médicos da rua. Ele dizia que enchiam o saco dele. Cada um chegava com uma receita, um novo médico recém-chegado na cidade. Enfim, eram tantos médicos que ele não tinha paz. Eu não entendia muito bem o que ele estava falando. Só me dizia que minha mãe entrava na onda dos médicos de rua e ela toda hora vinha falar com ele para fazer determinada coisa que iria ficar curado.

 

Os tempos passaram e chegou a minha vez de ter alguns probleminhas de saúde. Enquanto eu permaneci calado nos grupos de convivência, tudo era de muita paz. Bastou eu dizer que era diabético que começaram a aparecer receitas e remédios. Meu Deus! Tanta cura! Tantos milagres! Tantos remédios que os médicos tradicionais não conhecem e curam mais rapidamente do diabete.

 

Descobri que havia sites espetaculares que enviavam remédios miraculosos. E o meu dinheiro começou a tomar outros rumos de uso. Cerveja, nunca mais. Carboidratos, um veneno. Massas, coisa do demônio. Nem a minha laranja podia mais comer. Agora na safra do caqui é um desespero. E os médicos de rua são em grande número.

Amigos meus tornaram-se médicos e nem me convidaram para a colação de grau. E ainda me perguntam:

- Você ainda está com diabete?

Respondo que sim, e logo nova abordagem:

- Não pode ser. Você não experimentou tal remédio que vende em casa de produtos naturais? É um santo remédio. Fulano ficou curado em menos de três meses.

 

Dessas conversas, a gente sai deprimido ou de saco cheio com ficava o meu pai.

 

E hoje caí na besteira de dizer que estava sentindo muito refluxo num grupo que trabalhava com exercícios físicos.

Logo um senhor aposentado me disse para comprar umas almofadas declinadoras que mantém o corpo inclinado e não em grau zero de ângulo. E logo eu perguntei:

- Compra-se em lojas de produtos hospitalares?

Ele me respondeu na ponta da língua:

- Nada. Na Amazon você pode escolher vários modelos. Minha esposa escolheu até bonito. Ela está amando.

Pensei. Então não preciso de almofadas para amar. Prefiro outra situação.

 

Outro rapaz me receitou meio limão em jejum. E fiquei curtindo o receituário dos médicos de rua. Saí com tantas receitas sem pagar nada. Vindo para casa pensei no meu pai. Ele deve ter-se divertido bastante com esses médicos e essas médicas de rua. E ainda mais eles se achavam com muito apoio, pois minha mãe dava a atenção que eles mereciam.

 

Exercício ilegal da medicina. Porém, uma casa de humor. Esse é o melhor remédio vindo dos médicos de rua.

Valeu, pai!

 

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 14/06/2023
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