Manhã de sol num dia de inverno, perfeito para uma caminhada pelas ruas e praças de minha cidade, observando a vida como ela se dá e prestando a atenção naquilo em que ela se mostra mais frágil. Gosto muito de animais, apesar de ser contrário a sua manutenção nos apartamentos que mais parecem prisões que casas aconchegáveis para esses seres feitos para a vida livre.
E nesse caminho pelas ruas, um cruzamento com muito movimento de carros nesse horário. Pessoas que estão atrasadas para o trabalho, outras com os filhos para serem levados às escolas. Enfim, a vida não parece ser brincadeira. Mas eu e tantas outras pessoas podíamos estar nesse cruzamento de rua, numa manhã de inverno.
Foi então que apareceu um casal que também caminhava e estava acompanhado de um pet bem pequeno, lindo. Leve e solto. Feliz da vida levantando o focinho para observar o mundo dos humanos apressados. Era uma cena encantadora ver aquele animalzinho tão miúdo curtindo a liberdade de ir e vir, sem coleira, sem ninguém segurando. Totalmente solto.
Seus donos em passos rápidos atravessaram o cruzamento esperando que o lindo pet viesse atrás, focinhando seus calcanhares. Ledo engano. A felicidade deve ser curtida em sua plenitude, inclusive no meio de um cruzamento de ruas com tantas pessoas apressadas. Ali então o pet parou para curtir a vida. Estava em seu total direito.
Do outro lado, seus donos desesperados chamando para que ele se apressasse. Poderia provocar um acidente e até perder a vida. Como ele iria entender que ali naquele cruzamento tão dinâmico e bonito haveria algum risco para sua própria vida? Então o casal, seu dono, grita, grita, ameaça, briga...
Comecei então a pensar: quem está errado nessa situação? O casal poderia dar total liberdade para o animal? Ou deveria manter nos limites do risco? E pensei ainda mais: há poucos dias uma cachorrinha foi quase trucidada por um pitbull solto na rua, ali perto de onde estava o pequeno pet curtindo sua manhã de sol.
No meio do cruzamento havia um pet solto curtindo a liberdade dada por seus donos, e também seu risco de vida. Quem deveria ter juízo? Farei um pedido a Deus para completar a criação dando uma pequena dose de juízo aos nossos pets, pois os humanos estão cada vez mais vazios do cuidado necessário com a criação. Deus poderia retirar, como fez com a costela retirada de Adão para fazer Eva, um pouco de juízo daquele casal e soprar nas narinas dos pets.