Edebrande Cavalieri
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Cultura abandonada

Caminhando nesta manhã de sol de inverno, céu azul e sem nuvens, brisa à beira mar tocando em nossas faces, deparo-me com um monumento imponente em meio a mato e todo imundo. Deixei de lado meu rumo e fui ver do que se tratava aquele monumento. Afinal estava no meio de uma linda praça na beira mar. De longe dava impressão ruim, como lugar onde restos da sociedade se juntam para consumir drogas e outras coisas mais.

 

Senti que deveria verificar de que se tratava aquele monumento. O sol brilhando me dava mais coragem para chegar perto. Bem no lado havia outra construção também abandonada, dando a impressão de ser um banheiro público. Achei estranho também um banheiro público num praça onde as pessoas caminham, praticam esportes, curtem música, encontram-se, e um banheiro público abandonado. Cheguei perto e vi uma plaquinha: sorria, você está sendo filmado. Dei uma baita gargalhada e quase fiz um gesto obsceno, mas me contive. Onde ficaria a minha reputação?! E ri dentro de mim. Até o escatológico está em abandono.

 

E segui em frente na minha aventura matutina rumo ao monumento imponente. Estava intrigado, pois havia ao lado três mastros para bandeira. Portanto, tratava-se de algo que envolveria nações. Chegando pertinho avistei uma placa de inauguração datada de 1999. Portanto, não era tão antigo assim aquele monumento. Vinte e cinco anos seriam suficientes para o esquecimento? Para o abandono. Na plaquinha de inauguração dizia que se tratava de uma homenagem à Grécia, especialmente à comunidade grega residente na capital Vitória, expressão da amizade entre os povos e admiração pelo patrimônio cultural representado por aquela nação.

 

Não me veio nenhum impulso de riso, mas de choro. Como seria possível deixar esse símbolo se deteriorando no tempo sem nenhum tipo de cuidado? Os mastros das bandeiras estavam em meio ao mato, já todos bem enferrujados devido à maresia. Como minha formação acadêmica está toda enraizada na filosofia, a dor que senti era muito forte. Como ainda me dói! Daqui a pouco o monumento cai, e seus escombros são recolhidos. Apaga-se a memória cultural. Será que o nosso destino será no poço da mesquinhez, da estupidez de políticos que comparam professores a traficantes?

 

Então vim para casa derramar minhas lágrimas sobre o teclado onde declaro minha indignação diante da estupidez do poder público, no caso específico, da Prefeitura da capital, que relega à indiferença, ou mesmo a negação da cultura mais elevada que moldou o ocidente. Mas podia ser também o monumento a Iemanjá. Para mim, toda cultura exige consideração e preservação. Respeito e acolhimento. Um país que perde o cordão umbilical das culturas está fadado ao aborto, sem futuro.

 

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 12/07/2023
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