Tantas vezes me pergunto:
Por que somente agora me vem a poesia?
Tanto tempo ocupado com coisas úteis,
Coisas que preencheram vazios
E me me deixaram ainda mais sem nada.
Então no momento de maior angústia
Sem luz no final de um túnel sem fim,
Onde apenas a morte parecia chegar,
Pus-me a escrever sobre esse vazio,
Essa presença de algo ausente.
Parecia procurar algum pedaço que me faltava.
Era algo que me apontava para aquilo que estava ausente.
A pandemia apenas me jogou no fundo do poço
E me fez ver que o caminho era para ser percorrido.
O caminho poético era apenas a explicitação dessa ausência,
Pois até os amores eram entes fugidios,
Nenhum completava o vazio que me invadia.
Então os poemas foram aparecendo,
Tomando forma e movimento,
Tentativas inúteis de preenchimento do desejo.