Ainda podemos falar de pecados e virtudes? O mundo moderno constituído a partir das revoluções econômica, religiosa, científica e cultural propunha o fim desta linguagem. A própria ciência fazia crer no século XIX que a redenção da humanidade passaria obrigatoriamente pela superação dos estágios religioso e metafísico. A grande utopia seria a construção de uma sociedade baseada na ordem positiva.
Mas o século XX foi mostrando aos poucos os equívocos de um progresso baseado na ordem econômica e científica. Duas guerras mundiais serviram logo no início para desmistificar a idéia de redenção cientificista. Interesses políticos foram permeando e apoiando iniciativas nas pesquisas científicas. Descobre-se que o resultado das pesquisas pode ser manipulado politicamente. Surge então a exigência ética na vida política e na prática científica. Ética na pesquisa passa a ser tema de congressos e encontros. Temas que pareciam abandonados vão retornando com força.
Neste sentido, a Igreja Católica sinaliza e identifica o aumento dos chamados “pecados capitais”. Mostrando coragem e atenção ao mundo contemporâneo, acrescenta à lista antiga os pecados relativos à manipulação genética, ao tráfico de drogas, à poluição do ambiente, à injustiça social, à riqueza excessiva e à geração de pobreza. Reconhece a Igreja que houve uma queda do sentimento de pecado no mundo secularizado.
De fato, o mundo moderno foi perdendo o sentimento de pecado. Prefere, ao invés, falar em crimes. Estes crescem assustadoramente sob nosso olhar impotente. Parece que o inferno nos ronda permanentemente. Agora a Igreja Católica mostra se a lista anterior dos pecados capitais atingia o indivíduo, os pecados listados do mundo atual marcam pelo impacto social e mostram reflexos ainda mais destruidores. São grandes chagas sociais, são grandes pestes como foi a peste negra. Os pecados listados ameaçam a sobrevivência da humanidade.
O mundo que foi criado para ser um grande jardim (do Éden), um paraíso, pode se transformar num grande inferno. Nunca falar de pecados e virtudes foi tão urgente como nos tempos atuais. É preciso “confessar” estes tantos novos pecados. E a penitência não pode ser um lenitivo de uma oração hipócrita de alguém que no dia seguinte continua a praticar as mesmas coisas. É preciso de penitência pública. Se a terra grita por justiça diante dos algozes que a destruíram e ainda a destroem, a humanidade enjaulada e injustiçada clama pelo que lhe retiraram do prato, da casa e da própria carne.