Uma fala de um jovem deputado estadual de São Paulo me tocou muito profundamente – “Elas são fáceis porque são pobres”. Não se trata de uma expressão incomum. Quantos jovens, filhos nossos, saem pelas ruas à caça de mulheres difíceis!? E quantas jovens, filhas nossas, saem pelas ruas decididas a não serem consideradas “mulheres fáceis”!? Por serem “fáceis” foram subjugadas, maltratadas, mortas! Ou por serem “difíceis”, o que dá no mesmo destino, para elas.
Precisamos desconstruir nossas narrativas, nossos processos educativos de ser homem e ser mulher. Não existem homens ou mulheres fáceis. Existem pessoas que querem viver seus desejos de modo pleno, e não podem ser julgadas por isso.
As mulheres ainda são educadas para serem dominadas, silenciadas. A elas não lhes é dado o direito de demonstrar de maneira clara algum interesse por um homem. Que triste a vida do homem! Olhar para todas as mulheres que vivem como estátuas, indiferentes a nós, como se fossem objetos indecifráveis, sem poder demonstrar o mínimo interesse por nós!
Como seria bacana saber que sou desejável por uma mulher! Vou me sentir o máximo! Entre tantos idiotas, machistas, ela me olhou e me achou bacana a ponto de se sentir à vontade para demonstrar seu interesse por mim. Sem rodeios, ela manifesta o desejo de sair comigo, manda tantas mensagens como quiser ao longo do dia, busca saber de mim e do que estou fazendo, te responde rapidamente, demonstra gostar e se interessar em conversar comigo, retribui brincadeiras de paquera.
Como é chata a vida do homem sem uma mulher que reconhece seus valores, seu modo de ser, sua inteligência, sua independência, seu jeito de ser homem! Como é cruel interpretar o interesse das pessoas como um jogo entre fácil e difícil!
Chamar uma mulher de fácil é uma coisa horrível, das mais horríveis, que demonstra uma falta de inteligência imensurável. Se transou na primeira noite, o que tem a ver com o juízo – fácil ou difícil? Chamar uma mulher de fácil ou difícil é demonstração de pouca inteligência. Nada diz sobre ela, mas sobre nós, homens, machistas. Demonstra nossa forma pequena de ser e nada sobre o que ela é.
Coloque-se no lugar dela, com todos os medos que ela carrega simplesmente pelo fato de ser mulher. Medo de andar na rua e ser assediada violentamente. Medo de ser assaltada ou sequestrada. Medo de ser estuprada. Medo de ser morta. E mesmo assim ela se põe na estrada, no seu caminho, e enfrenta tudo isso que lhe pesa e demonstra o seu desejo para estar a seu lado, como companheira, como amante, como mulher.