Estamos há um mês do início da primavera no hemisfério sul, estação conhecida pela beleza das flores. O frio das folhas secas dá lugar à beleza colorida. A natureza se reveste com perfumes que atraem uma imensidão de insetos e animais. Particularmente, aprendi desde cedo a olhar a natureza em seus movimentos e suas lições. Tantas vezes contemplei as matas com ipês apressados que se mostravam esplendorosos.
Andando pelas ruas da cidade nos últimos dias passei a observar a quantidade de plantinhas, fincadas em lugares inóspitos ou em canteiros bem cuidados, explodindo em flores. Ao olhar uma delas não resisti e falei ao tempo em seu redor: que plantinha apressada, florindo antes da hora! Deve estar querendo aparecer!
Aquela cena não me saía da imaginação e comecei a ver pessoas nas redes sociais postando fotos de plantinhas apressadas, que estão florindo antes da hora. São tantas que não resisti em refletir um pouco mais sobre isso. Parece que essas plantinhas querem descarregar logo as folhas secas, apodrecidas, sem vida.
Hoje aprendo dessas plantinhas apressadas em florir o caminho que nós, homens, deveríamos trilhar. Somos muito preguiçosos em fazer o bem, em florir em torno de nós, em perfumar nossos caminhos cotidianos. Como seria fazer o bem antes da hora? Às vezes, tem-se a impressão que a humanidade parece uma grande árvore com folhas caindo, apodrecendo, enfeiada pelo frio da indiferença.
A primavera antecipada pelas plantinhas deveria servir de ensinamento a cada um de nós. Como pessoas de fé, ao olhar o entorno florido e em pujante paz, colorida e perfumada, deveríamos nos conscientizar de que “a paz é o sonho de Deus para a humanidade”, como nos diz o Papa Francisco.
Como sociedade brasileira deveremos entrar na primavera de fato em setembro, em pleno tempo de campanha política em vista das eleições. As estradas eleitorais estarão floridas? Perfumadas? Coloridas? Cheias de paz? A quantidade de religiosos que aparecem como candidatos é enorme. O que cada um está trazendo em suas mãos? O que falam suas bocas? Mãos cheirando a pólvora e bocas sujas, que vomitam ódio, ou pessoas que desejam ardentemente construir a “melhor política”?
A pressa das plantinhas em abrir nossos caminhos com flores, perfumes e cores, deveria servir para que cada eleitor, cada candidato político, fosse apressado em florir de paz esses tempos de tantas polarizações. Olhai os lírios dos campos, olhai o florido apressado das plantinhas que estão em nossa volta!
Na missa com os políticos católicos do mês de agosto deste ano, foi dada a cada participante uma cópia da Carta Pastoral dos Bispos do Regional Leste 3 sobre a ‘Melhor Política’ que orienta o povo católico a respeito da eleição. Desta carta gostaríamos de destacar três pontos, flores essências para embelezar os tempos atuais:
1. Casa comum: “Quem não integra a concepção ecológica profunda a seus projetos políticos ou já demonstrou descaso com o ecossistema em sua gestão ou mandato não merece nosso voto e não pode dizer-se em sintonia com o pensamento de nossa Igreja”.
2. Democracia: “Partidos, candidatos ou candidatas e cabos eleitorais que simpatizam com regimes ditatoriais ou que atentam, com palavras e atos, contra a democracia e suas instituições também estão fora de sintonia com os ensinamentos de nossa Igreja e, como tais, não merecem nosso apoio”.
3. Verdade: “Busquemos o debate eleitoral aberto, no qual não se escondam as propostas e projetos, e evitemos as candidaturas e campanhas pautadas na difamação do outro, nas falsas notícias, no discurso raivoso e nas mensagens de ódio transmitidas por aplicativos”.
Todos os cristãos somos convocados e, nesse sentido, seguindo a pressa das plantinhas em florir, a preocuparmo-nos com a construção de um mundo mais florido onde despontam a beleza do “diálogo e da cultura do encontro, a luta pela justiça e pela paz”.
Publicado em 27 de agosto de 2024 https://www.aves.org.br/pressa-em-florir/